Simpósios Temáticos
ST1 - CULTURA, RESISTÊNCIA E AUTORITARISMO
Coordenador/a: Dra. Miliandre Garcia (Unespar, campus Curitiba I, Embap), Dr. Rodrigo Czajka (UFPR)
Ementa: Os regimes autoritários pela sua natureza repressiva e centralizadora costumam modificar as estruturas de representação do sistema político, bem como a participação e engajamento de grupos e indivíduos. Em muitos casos e por inúmeros motivos, a organização da luta contra os governos autoritários não se limita ao campo político, mas expandem-se para outros espaços, entre eles o cultural. Essa reconfiguração dos campos em contextos autoritários, da mesma forma altera a dinâmica dos grupos e dos indivíduos que organizam a oposição política em inúmeras frentes. Tal como ocorreu no Brasil durante as ditaduras Vargas e militar, bem como noutros países da América Latina. O objetivo desse ST é, portanto, discutir as diferentes práticas de resistência ao autoritarismo no campo artístico e intelectual, considerando os processos de continuidade e ruptura dessas experiências, bem como os dilemas e ambivalências da criação cultural.
Referências Bibliográficas
CZAJKA Rodrigo; MOTTA, Rodrigo Patto Sá; NAPOLITANO Marcos (orgs.). Comunistas brasileiros: cultura política e produção cultural. Belo Horizonte: UFMG, 2013.
GARCIA, Miliandre; SOUZA, Silvia Cristina Martins. Um caso de polícia: a censura teatral no Brasil dos séculos XIX e XX. Londrina: Eduel, 2019.
NAPOLITANO, Marcos. Coração civil: a vida cultural brasileira sob o regime militar (1964-1985) – ensaio histórico. São Paulo: Intermeios: USP – Programa de Pós-Graduação em História Social, 2017.
ROLLEMBERG, Denise. Resistência: memória da ocupação nazista na França e na Itália. São Paulo: Alameda Editorial, 2016.
ST2 - VIOLÊNCIAS INTERSECCIONAIS E RESISTÊNCIAS
Coordenadoras: Dra. Teresa Kleba Lisboa (UFSC), Dra. Carla Cristina Nacke Conradi (UNIOESTE)
Ementa : O presente Simpósio Temático propõe a realização de um debate sobre experiências profissionais, projetos de pesquisa e produção de conhecimento que atravessam fronteiras interseccionais, transversais, interdisciplinares entre as categorias violências de gênero, de raça/etnia, de classe, geração, discapacidades, entre outras. No atual cenário, marcado pelo fortalecimento do neoconservadorismo, constata-se um retrocesso no que se refere às conquistas alcançadas pelos diferentes Movimentos: Feministas, dos Povos Tradicionais, Indígenas, Negros, de Mulheres Migrantes, Mulheres do campo, das águas e das florestas, ao mesmo tempo em que há um desmonte das políticas públicas conquistadas com muita luta nos últimos trinta anos. Alguns segmentos específicos da população, principalmente as mulheres e população LGBTQIA+, têm vivenciado situações extremas de discriminação, violência, exclusão e até morte, sendo destituídas de seus “direitos mínimos”. Da mesma forma, na academia, estudantes, docentes e pesquisadoras do sexo feminino, também é alvo de opressão, discriminação e violência quando se trata das questões de gênero, raça/etnia, classe, geração entre outras. Pretende-se, portanto, criar um espaço de discussão, para pensarmos de forma conjunta, em estratégias de resistência que venham ao encontro de propostas de ações críticas e construtivas com vistas a mudar este cenário.
Referências Bibliográficas
BUTLER, Judith. Corpos em aliança e a política das ruas: notas para uma teoria performativa de assembleia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2019.
COLLING , Ana Maria ; TEDESCHI. Losandro Antônio. (Org.).Dicionário crítico de Gênero. Dourados-MS: Ed. UFGD, 2019.
COLLING, Leandro. Dissidências sexuais e de gênero. Salvador: EDUFBA, 2016.
PEDRO, Joana Maria, ZANDONÁ, Jair. Feminismos e democracia . Belo Horizonte: Fino Traço, 2019.
SEGATO, Rita Laura. Las nuevas formas de la guerra y el cuerpo de las mujeres. Ciudad de México: Pez en el Árbol, 2014.
ST3 - EXPERIÊNCIAS DE EXCEÇÃO NO PÓS-DITADURA
Coordenadores: Dr. Ozias Paese Neves (USP), Dr. Daniel Trevisan, (IFTM)
Ementa: Este simpósio temático pretende abarcar trabalhos relacionados a rupturas e quebras da institucionalidade em regimes tidos como democráticos, com destaque para aqueles que vivenciaram processos ditatoriais em sua história recente. Ao longo do século XX, a América Latina foi marcada por ditaduras caracterizadas pelo autoritarismo, violência e pelo profundo desrespeito aos Direitos Humanos. Tais regimes atuaram fora da ordem institucional quando torturaram e assassinaram milhares de pessoas, mas também criaram seus próprios mecanismos legais para definir aqueles que seriam considerados inimigos do Estado. A retomada da democracia em meados dos anos 80 na América Latina trouxe a expectativa de uma ampla participação popular nos processos políticos, na construção de novas constituições, cidadãs e plurais, e o fim do autoritarismo. O Estado Democrático de Direito seria assim marcado pelo respeito às leis, no entanto, com a experiência social observada vimos que tal agenda teve uma dificuldade de incorporação a incluir minorias e grupos marginais. Percebeu-se que tais regimes são constantemente permeados por casos de desrespeito ou aplicação seletivas de normas legais e/ou constitucionais, principalmente relacionados à violência polícia, de gênero, perseguição de populações periféricas e indígenas, repressão a protestos, prisões arbitrárias, espionagem e a manutenção de medidas de exceção e emergência para atender os interesses de grupos específicos que mantém vínculos com governantes ou legisladores. Nesse sentido, pretendemos reunir nesse simpósio trabalhos que dialoguem com a temática do Estado de exceção e ações antidemocráticas na contemporaneidade.
Referências bibliográficas
AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção. Tradução Iraci D. Poleti. 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2004.
AVRIZER, Leonardo. Impasses da democracia no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016
BIROLI, Flávia; MIGUEL, Luis Felipe. Feminismo e Política: uma introdução. São Paulo: Boitempo, 2014.
BRASIL. Comissão Nacional da Verdade. Relatório: Comissão Nacional da Verdade. Brasília: CNV, 2014.
CALVEIRO, Pilar. Poder e desaparecimento. Tradução Fernando Correa Prado. 1.ed. São Paulo: Boitempo, 2013.
CARDIA, Nancy; SALLA, Fernando (Org.). Tortura na era dos direitos humanos. São Paulo: EdUSP, 2014
CASARA, Rubens. Estado pós-democrático: neo-obscurantismo e gestão dos indesejáveis. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.
FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucília de Almeida Neves. O Brasil republicano: o tempo da nova república (1985-2016). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.
GALEGO, Esther Solano. O ódio como política: a reinvenção da direita no Brasil. 1.ed. São Paulo: Boitempo, 2018.
NOBRE, Marcos. Imobilismo em movimento: da abertura democrática ao governo Dilma. São Paulo; Companhia das Letras, 2013.
PINHEIRO-MACHADO, Rosana. Amanhã vai ser maior: o que aconteceu com o Brasil e as possíveis rotas de fuga para crise atual. São Paulo: Planeta do Brasil, 2019.
QUADRAT, Samantha Viz; ROLLEMBERG, Denise. História e memória das ditaduras do século XX. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2015.
RANCIÈRE, Jacques. Ódio a democracia. São Paulo: Boitempo, 2014.
SAFATLE, Vladimir; TELLES, Edson. (Orgs.).O que resta da ditadura: a exceção brasileira. São Paulo: Boitempo, 2010.
VALIM, Rafael. Estado de exceção: a forma jurídica do neoliberalismo. São Paulo: Contracorrente, 2017.
ST4 - O ESTATUTO DA VIDA EM TEMPOS DE EXCEÇÃO
Coordenadores: Dr. Fernando Botton (UESPI), Dr. Reginaldo Cerqueira (UNIFESSPA)
Ementa: Levando em consideração a conceituação biopolítica de que cada vez mais nos períodos modernos a vida torna-se objeto de escolhas políticas e econômicas, propomos esse Simpósio Temático no intuito de reunir discussões, direta ou indiretamente, relacionadas ao estatuto da vida nos tempos modernos e contemporâneos. Compreendemos o termo “vida” em suas múltiplas expressões e acepções, desde uma vida-política qualificada quanto a degradação da vida no nível da bestialidade. Nesse sentido, muitos filósofos refletiram e incitaram pensamentos acerca da questão da vida na sociedade contemporânea, tais como Giorgio Agamben e seu conceito de vida nua, capaz de ser sacrificável sem qualquer ônus ético-político. Também Judith Butler reflete sobre as vidas dignas de luto e aquelas impassíveis de lembrança ou luto. Achile Mbembe atualiza o conceito foucaultiano de biopolítica e nos fornece a noção de necropolítica, mesclado a administração das vidas com a violência da colonialidade. O resultado dessas múltiplas reflexões nos permite compreender a importância de refletirmos sobre o estatuto da vida nas sociedades contemporâneas, especialmente se pensarmos nos espaços de gerenciamento da possibilidade de viver/morrer tais como os campos de concentração nazistas ou de refugiados nas fronteiras estadunidenses, brasileiras e europeias; as prisões destinadas aos “terroristas” como Guantánamo, bem como aquelas destinadas aos perseguidos políticos no Chile, na Rússia ou na Coreia do Norte; as faixas de contenção e assassinato de povos inteiros como a de Gaza ou a da população Curda, entre outras. Inclui-se nessa reflexão a ditadura militar brasileira como período em que o Estado protagonizou a violação dos direitos humanos dos povos indígenas fomentando, por meio de práticas de extermínio, o desaparecimento desses povos, conforme os dados do relatório da Comissão Nacional da Verdade. Além desse aspecto, podemos pensar em espacialidades não necessariamente em guerra declarada enquanto locais de gerenciamento de vidas tais como hospitais psiquiátricos, geriátricos e obstétricos; os feminicídios e transfobias realizadas cotidianamente nas capitais civilizadas ocidentais; a violência policial nas periferias das capitais brasileiras e latino-americanas; as políticas públicas de defesa ou cancelamento de direitos básicos à vida como acesso à saúde, à alimentação e à possibilidade de sobrevivência digna; as ações ambientais (ou falta delas) que afetam vidas de comunidades locais, bem como afetam a vida humana como um todo; essas são algumas de muitas outras possibilidades de pensarmos o estatuto da vida no mundo moderno e contemporâneo que interessa para as discussões de nosso simpósio.
Referências bibliográficas
AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer: O poder soberano e a vida nua I. Belo Horizonte: UFMG, 2012.
ARENDT, Hannah. A Condição Humana. 10. ed. Rio de Janeiro: Ed. Forense Universitária, 2000.
BUTLER, Judith. Vida precária: Os poderes do luto e da violência. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019.
DUARTE, André. Vidas em Risco: Crítica do presente em Heiegger, Arendt e Foucault. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.
ESPOSITO, Roberto. Termos da Política: Comunidade, Imunidade, Biopolítica. Curitiba, Ed.UFPR, 2017.
FOUCAULT, M. História da sexualidade: a vontade de saber. São Paulo: Paz e Terra, 2015.
MBEMBE, Achille. Necropolítica. São Paulo: n-1 edições, 2018.